terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Sim, você me conhece. Não tão bem quanto acha, nem tão pouco quanto eu queria. As vezes me faz mal isso, toda essa falsa intimidade, todos esses jogos sociais. Sei que tenta se manter longe o suficiente para eu não te tocar, mas daí vê o que faço e filma cada passo. De encontro com seus dedos e teclas, os meus vão quando ordenados, pois devem a ti, algo. Algo esse que se bem analisado se deve ao fato do meu suor escorrer em suas máquinas e respirar sobre seu ouro. Já falei sobre seu pecado moral antes, sobre suas mentiras e sobre os tapas nas costas. Nunca adianta de nada. Essas palavras nunca são lidas por quem deveria ler. Elas são rasas o bastante para não te fazerem entender. Mas em mim, aliviam um peso sem tamanho. O peso de saber que não posso deixar morrer. Não é sua verdade, nem o que estima. Por isso somos tão iguais. Nos tornamos diferentes em silêncio.

Me finjo de mais um que paga pelo silêncio. Me faço de normal e de nós me alimento. Eles travam minha garganta ao menos uma vez por dia, para que gritos não te rasguem a pele. Esse é o meu maior desejo, pelas mentiras, pelos e-mails, pelas piadas. Apenas mais um tapinha nas costas.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Movimentar

Encontro mais uma vez
muros rabiscados com nomes iguais ao meu.
Sinto o desconforto de viver trancado
em sonhos que não são meus.

Se a porta ficasse aberta
os medos podiam sair.
Os painéis apagados
ainda iluminam tudo que está perto.

E o problemas é perder a vida
dentro de uma caixa sem respirar.
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Eu sinto o peso de seus gritos sobre mim
e do fim voltam as sombras de suas mãos.
Em cada momento me sinto mais fundo
mas não quero voltar.

A única coisa que me faz feliz aqui é a segurança
saber que não há mais como descer.
Mas ao ver a luz quero escalar e sentir o frio
sem paredes ou mentiras.

Sem vendas sei que sempre vou cansar
mas não posso deixar morrer.
Ainda tenho força de gritar.
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A intolerância de suas mão ásperas ainda me afeta
se sou julgado é por não ser igual.
Anos se passam e me culpo por erros que não são meus.
Seus dias continuam congelados e isso basta.
Não quer mudar, nem olhar para trás.

Rígido se reforça com suas idéias perfeitas
seu status, seu valor.
Profissional até onde deve ser flexível
e tudo desaba, e tenta ser o pilar.
Ser indispensável e importante
se faz ser o próprio valor, pois não aceita estar fora.

Antes quando tudo era mais simples.
Antes quando tudo tinha um sabor.
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Entendo agora jogos complexos
e o amargar ao sentir dor.
Já sei tudo sobre o que é sofrer
em novas cinzas refazer.

De palavras bonitas crescendo
ouvindo o que é o correto fazer.
Seguindo de olhos fechados
sem direção e sem pensar.
Lucrando, tirando vantagem
mas esquecendo de sentir.

O vento no meu rosto faz o medo surgir.
Existe como fazer diferente.
Cada um faz a diferença.

Posso escolher o que sou.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Não importa quantos medos coloca sobre mim.
Se consigo respirar, consigo lutar.
Me prende em um quarto de sussurros, mas cubro os ouvidos.
Tenta de toda maneira podar e travar, falha.

Só sinto o temor.
Treme por dentro, apesar de tentar se manter calmo.
O fogo sobe e esquenta por dentro das veias.
Nada pode parar.

O coração ainda bate com gritos.
Como um relógio descompassado, porém vivo.
Salvo minhas palavras e compasso.
Me enxergo em teus olhos, seu medo de sentir.

Só quero viver.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

My God, it`s full of stars

Sonho acordado com portas me empurrando. Vendo outras baterem com a força do vento, mesmo com as janelas fechadas. Suas notas ensurdecem o medo. Tudo o que acho é o sorriso. Vejo-te morrer, todas as coisas morrem. O brilho continua. Reflete em cacos pelo chão, formam arco-íris na madeira. Escura, escuta e lembra de coisas que nunca viveu. Nem quando era árvore, nem agora cheia de cola e pregos. Como seu coração bate tão alto? Ouço até em meio ao silêncio da madrugada fria. Corre em ti a nobreza de algo inexplicável, mas não me enche mais os olhos ver toda essa destruição. Violência vazia e descabida. Suas palavras cortam o ar mais rápido que um projétil. Não sangra, mas dói.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Sufoca e de problemas amarga. Será que um dia esse gosto sai? Cheio de força, identidade, personalidade. Esmaga tudo o que está na sua frente. Vale? Não escreve um rumo, apenas anda. De incertezas consegue entupir artérias. De zero a cem em 0,5 segundos pensa em como seria se andasse, mas suas pernas não existem. Elas foram guardadas há muito tempo, junto com o que achava correto, junto com antigos amigos, junto com caixas velhas e empoeiradas. O usado não reluz tanto quanto o novo.

"A se os meus valessem tanto quanto esses cifrões...". "A", de artigo. Não "Há", de haver. Pois ali nada mais há. Problemas sufocam e amargam.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Nessa roda gigante, vida, apenas sou mais uma engrenagem que assiste os demais. E hoje parece que um de meus dentes se quebrou. Além de minha alma doer como há tempos não, me sinto usado para o bel prazer alheio. O uso de meu ser em coisas que não deveriam. Mais uma roda jogada e cheia de lembranças. Em mim a cólera dos tempos atuais, falta de tempo para refletir. Noites em claro que se somam com preocupações externas e me fazem não dormir há dias. Há noites. Há momentos. Não há vida.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Chega e senta. Um copo de água com gosto de liberdade. Seca a testa, arruma a cadeira, olha para a tela e sente em seus ombros a preguiça. Olha para um lado, para o outro. Vontade de sair correndo e viver não falta. "Outro dia e eu nessa merda" - pensa.

Levanta, anda, bebe o segundo copo de água, senta e se passou um minuto. Vê e-mails, escreve, ri com algo que lembra. Em pensamento está numa praia, num parque, em casa dormindo, andando de bicicleta. Sabe que muitos se contentam com isso. Que é um que questiona aquilo enquanto todos a seu redor acham normal. "Bem, normal não é. Normal não, tudo menos normal" - questiona. Seu corpo, inerte, continua a esperar alguma reação.

É, acho que é hora de um terceiro copo d'água.
Imagine quando tudo não passa de um sonho. Seus pés flutuam e você não sabe para onde anda. Seu coração bate forte e nada te afeta, nada te priva ou oprime. Respirar não é necessário, seus pulmões estão cheios de esperança. O sorriso eterno, o olhar eterno, o primeiro enxergar de verdade. É nessa hora que tudo se torna perfeito e se ouve o silêncio. A partir daí a leveza se torna peso e surgem porquês de tudo isso. Ao abrir os olhos você não é mais o mesmo e o mundo se torna o seu caminhar. Alheio a tudo, seu sonho ainda existe dentro de uma parte minúscula, mas que te faz levantar todos os dias. Felicidade.


Para entender esse texto, ouça: BlackSea
Pt. 1

Entendo que quando os olhos se fecham a paz encontram
mas até hoje não precisei viver isso.
O medo desse momento é maior do que tudo.
Me sinto perdido ao pensar.
Dentro de mim se pinta de preto o mar
e minhas mãos de sangue.
Meus olhos choram vermelho
mas cada lágrima só é mais uma gota.

Espinhos a minha volta me protegem do mundo,
fico recluso na escuridão.
Tementes a mim se afastam.
Me fecho a cada dia,
protejo o que me torna vivo e ao mesmo tempo fraco.


Pt. 2

A porta se abriu depois de anos fechada.
Não me lembro de ter visto tal luz antes.
Emana raios de calor e serenidade
aquece o que há em volta.
Apesar do medo de me queimar entro receoso
naquele ponto nada mais tinha a perder.
A cada passo fico mais tranquilo
os espinhos vão diminuindo.

A princípio não entendi
mas o medo desapareceu junto com as lágrimas.
Adormecido por nuvens
o mar não clareou, pois esconde a angústia.
Porém minhas mãos estão sendo lavadas
meu coração respira suave.
De asas quebradas
caminho com a sinceridade sob meus pés.
Vai fugir do mundo, em rumo a um lugar melhor que te deixe mais feliz? Seria utopia achar que tal lugar existe. O momento pode fazê-lo tornar uma prisão ainda maior.

Mas me deixe fugir também, quero sentir vento em meus dedos, tentar agarrar com toda força aquilo que me faz sentir vivo, ao menos uma vez. Dias e dias sem me preocupar com nada, a não ser viver.

Utopia e sonho. Mas quem sabe um dia você me ouve, pois enquanto estou aqui sou apenas mais um a dizer o óbvio que não se quer ser escutado.

Silenciado por mais luzes que apenas piscam e por sorrisos em um retrato que não é mais claro.
E me olho no espelho mais uma vez. Mãos molhadas de lágrimas que enxuguei prometendo não mais derramar uma gota sequer.

Outro dia em que me sinto só, talvez último dos meus. Não podem entender, pois solidão igual não há. Um vazio frio e que impossibilita andar sem sonhar num dia mais alegre, cheio de cores e calor. Aguardando uma esperança, mais uma ilusão que construo.

Sem amor, sem propósito e respirar. Pétalas são jogadas e mais ótimos filhos tirados, mas nada a se fazer. Aceitar tudo e abaixar a cabeça não me faz ou já fez bem. Se sou melhor do que ontem não sei, mas sou mais forte com pernas mais frágeis. Compreendo mais o valor de cada palavra dita, mas não o sentido que cada toque tem. Não conheço mais mãos ou beijos, apenas os fatos. Não me permito mais cegar minhas ações e de casos pensados me encho.

Lutas maiores que eu, me sufocam e ensurdecem. De joelhos me curvo, mas não deixo de mirar meus olhos. Se não para os seus, para sua sombra. Sei onde pisa, sei como se move. Cada vez mais próximo e eu cada vez com pernas mais frágeis. Já consegue me fazer discutir menos, apesar de eu pensar mais e mais. Afoito as palavras atropelam minha língua e não fazem sentido. Seus livros me ensinaram tudo o que você não queria. Me curvo denovo, mas dessa vez pedindo um pouco mais de esperança para que minha respiração volte.

Num primeiro acorde tudo some, até minha consciência. Bato como nunca antes e através de versos falo o que quero. Mas é pouco, pois quando acaba, oprimido e jogado, me sinto só. Ninguém entende. A boemia que em mim habita, sóbrea, se suicida a cada dia por um mundo melhor. Até o momento em que irei junto.

Não busco esse momento, não é chegada a hora. O preparo de tudo isso é independente de mim, pois sou apenas uma molécula no grande pão de centeio. E talvez o Deus que criamos não saiba tanto quanto nós, ou simplesmente desistiu de entender cada desejo e ansiedade. Necessito acordar novamente, pois se durmo, talvez meus olhos se colem para sempre.

" All it takes for evil to triumph is for men of good will to do nothing."
Edmund Burke